Paisagem Suburbana Carioca é um projeto fotográfico que tem como proposta registrar, narrar e exaltar o cotidiano do subúrbio carioca por meio de imagens sensíveis e poéticas. O projeto originou-se da urgência de olhar para o subúrbio com afeto e atenção, revelando suas belezas, contradições, símbolos e dinâmicas próprias — quase sempre negligenciadas pelos olhares midiáticos.
ROCHA MIRANDA
O projeto teve início em 2020, como resultado do meu trabalho final de graduação em Arquitetura e Urbanismo, pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), onde realizei uma profunda imersão na cultura suburbana. No centro do projeto estão as experiências comuns, mas profundamente significativas, das pessoas que vivem no subúrbio do Rio, precisamente na região conhecida como a Grande Madureira.
MADUREIRA
A fotografia torna-se uma ferramenta de escuta e observação, como a rotina dos trens e estações, as ruas, as calçadas, os vendedores ambulantes, os salões, botecos, igrejas, as fachadas de casas simples, mas únicas, com cores vibrantes, gradis, plantas e improvisos que revelam histórias de resistência. Botecos, quintais e terreiros sinalizam microterritórios de afeto e convivência. Essas vivências são registradas de forma não estereotipada, evidenciando que o subúrbio é mais do que um recorte geográfico desprezado: é presença, ancestralidade, cultura e identidade.
GUADALUPE
A fotografia no projeto assume uma linguagem visual que dialoga com a estética popular, como letreiros e placas, fabricados artesanalmente e de grande expressividade cultural; como a composição espontânea do cotidiano, em que o cenário não é montado, mas vivido, com cores vivas que dialogam com o tempo e a memória. Essa imagética cria um retrato afetivo e profundamente honesto do subúrbio carioca — uma paisagem que não cabe em molduras turísticas, mas pulsa em cada esquina das zonas norte, oeste, e da baixada fluminense.
BENTO RIBEIRO
Além da imagem, o projeto documenta a cultura viva do subúrbio — que se manifesta, por exemplo, em festividades religiosas sincréticas (como o Dia de São Cosme e Damião, São Jorge e São Sebastião), expressões vivas da mistura entre o catolicismo popular e as religiões de matriz africana, como o Candomblé e a Umbanda. As festividades ocupam ruas, praças e quintais, envolvendo toda a comunidade em celebrações que reforçam laços de solidariedade, resistência cultural e memória coletiva.
MARECHAL HERMES
O projeto tem como objetivo(s) reposicionar o olhar sobre o subúrbio como espaços de potência, de criatividade, de arte e de identidade; criar um acervo visual afetivo do Rio de Janeiro que não aparece nos cartões-postais; inspirar outras narrativas periféricas e descentralizadas e gerar reflexões e diálogos sobre pertencimento, memória urbana e desigualdade espacial.
Em 2024 participei da 4ª edição - Patrimônios Suburbanos - com um ensaio fotográfico para a revista Novos Diálogos Suburbanos, coordenada pelo Instituto 215 junto ao coletivo Diálogos Suburbanos e com patrocínio do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do RJ (CAU-RJ). Confira a edição!